REVISTA ÁUDIO E VÍDEO MAGAZINE – FERNANDO ANDRETTE
Os resultados que obtive até o momento, com todos os cabos que ouvi e testei da Geração 5 da Transparent Audio, levam-me a redobrar o cuidado tanto no tempo de audição como no realizar das avaliações, com os similares da geração anterior, no caso a MM2. A razão para esse procedimento é que as diferenças são muito consistentes e vale a pena fazer esse comparativo G5 versus MM2. Nossos leitores já tiveram a oportunidade de ler nossas impressões do cabo de interconexão Opus e os novos modelos de cabos de força. Agora terão a oportunidade de conhecer o novo cabo de caixa Reference XL G5, que veio a substituir o Reference XL MM2, que ficou no mercado por quase meia década.
Como escrevi na abertura de ambos os testes do Opus G5 e dos novos cabos de força, essa nova geração, segundo o gerente de operações Josh Clark da Transparent, são o resultado de três anos de pesquisa e desenvolvimento, em que cada etapa foi revisada e aprimorada com novos módulos de network que oferecem maior rigidez e amortecimento vibracional. As redes que ajustam a indutância foram também aprimoradas para manter o ruído fora do caminho do sinal, e um novo ajuste elétrico feito para melhor amortecimento e muito maior estabilidade elétrica. E os problemas associados aos cabos na flexão e torção também foram abordados e melhorados. Segundo o fabricante, todo esse cuidado no desenvolvimento da Geração 5 resultou em um aumento considerável na faixa dinâmica, um maior silêncio de fundo e uma neutralidade ainda mais precisa.
Desde o lançamento da linha XL, há uma década os cabos dessa série são ‘personalizados’ para os componentes do sistema do cliente. Um exemplo: as terminações dos cabos de caixa são ajustadas para combinar perfeitamente com as posições e ligações de polaridade no amplificador e na caixa acústica. A Transparent há muitos anos defende que diferentes componentes de áudio têm diferentes impedâncias de entrada e saída, portanto a calibragem é feita de forma individual para aquele sistema. Claro que você deve estar se perguntando: e quando mudo um componente do meu sistema, o que faço? Você entra em contato com o distribuidor e ele providenciará a nova calibração do cabo. Eu pessoalmente já utilizei algumas vezes esse procedimento, com as trocas de pré-amplificadores, powers e caixas. E posso dar meu testemunho que funciona.
Claro que, como testamos diversos equipamentos, não é possível manter apenas um set completo de cabos Transparent, pois estaríamos cometendo um erro grosseiro, já que esse fabricante defende a calibração de seus cabos para cada setup. Mas em pontos estratégicos do nosso sistema de referência, é perfeitamente possível utilizá-los já que são peças que não são trocadas sempre.
Assim utilizamos em nosso sistema de referência os seguintes cabos da Transparent: todos os cabos digitais coaxiais modelo Reference no sistema Scarlatti da dCS, Opus G5 de interconexão entre o DAC Scarlatti e o pré Dan D’Agostino, e o de caixa Reference XL MM2 entre o power Hegel H30 e as caixas Kharma Exquisite Midi.
O cabo de caixa Reference XL MM2 já está em uso há mais de 4 anos e na venda das caixas Evolution Acoustics MM3 ele foi novamente para a fábrica para ser recalibrado por duas vezes – a primeira com a entrada dos monoblocos da Air Tight e depois para a entrada do power Hegel.
É um cabo que gosto muito e diria que conheço bem todas suas virtudes e limitações. Por isso quando a Ferrari me disse que estaria disponibilizando para teste o novo Reference XL G5, já calibrado para esse setup (Hegel H30 com Kharma), recebi a noticia com extremo interesse, pois o salto dado do Opus para o Opus G5 foi
muito grande!
Visualmente a maior diferença está no network (também batizado no Brasil de ‘marmita’): menor, mais leve e com um design de acabamento mais próximo da linha Opus. O diâmetro dos cabos também mudou (no G5 a bitola é visualmente menor). A Ferrari teve o cuidado de até a metragem ser a mesma que o meu Reference XL (3,5 m). Como se trata de um teste comparativo e como o cabo veio calibrado para o meu setup (amplificador & caixa acústica), fizemos o teste em duas etapas: primeiro substituindo o nosso Reference pelo G5 e, depois de integralmente amaciado, fizemos uso da bi-cablagem tocando ambos simultaneamente e depois invertendo suas posições. Antes que dê um nó na cabeça dos nossos milhares de novos leitores eu explico: muitas caixas hi-end possibilitam o recurso de bi-amplificar ou bi-cablar. Alguns fabricantes defendem que esse recurso permite extrair todo o potencial de suas caixas. Para tanto a caixa em vez de ter um par de terminais (positivo e negativo), possuem por caixa dois pares. Para bi-cablar, basta ter em mãos dois pares de cabo para cada caixa. No caso da Karma a bicablagem é ainda mais fácil, pois o fabricante substituiu o jumper por uma chave – bastou ligar os dois pares de cabos Reference XL e alterar a chave e passamos a ouvir primeiro o Reference XL G5 alimentando os médios e agudos e o MM2 os graves, e depois o inverso.
Agora que esclareci aos novos leitores o processo de bi-cablagem vamos voltar à primeira etapa. Os cabos desse fabricante não precisam de meses de queima para extrair o seu melhor, mas percebo mudanças para lá de 250 horas. Diria que de 300 a 350 horas você já terá o cabo bem amaciado. Com esse tempo em mente é que fizemos a audição para primeiras impressões, e depois o ouvimos a cada 100 horas de queima. O duro é interromper a primeira audição, pois depois de 4 a 5 horas ele já começa a mostrar inúmeras de suas virtudes que irão desabrochar logo adiante.
O primeiro grande detalhe que chama muito a atenção é o seu descongestionamento nos crescendos! É um senso de organização e um controle férreo em todo o espectro audível que nos sinaliza de maneira clara o que está por vir. Com 100 horas, a diferença mais significativa em relação à geração anterior é a sensação de tridimensionalidade que o palco ganha. Foco, recorte, silêncio entre os instrumentos, tudo é melhor e mais realisticamente apresentado. Os planos não se amontoam e os naipes da orquestra se posicionam de maneira confortável, mesmo em gravações com excesso de microfones sobre a orquestra. Em gravações primorosas, como as da Reference Recordings, a amplitude em termos de largura, altura e profundidade se mostram magistrais! Tudo é direcionado para que o ouvinte tenha o maior conforto auditivo possível!
Com 200 horas, a naturalidade e beleza das texturas desabrocham, com tanta clareza e encanto que a pilha de gravações a serem escutadas só aumenta. Eu quase cheguei a acreditar que 200 horas já seriam o suficiente para o inicio dos testes, mas fui salvo pelas gravações de pratos e pela observação da ambiência de grandes salas de concerto, que se mostraram muito próximas do Reference XL MM2, o que me levou a deduzir que deveria frear minha pressa e esperar.
Após 300 horas: o Nirvana! A pilha dos discos da metodologia já estava devidamente preparada por quesito, porém por algum motivo ‘inconsciente’ (será mesmo?), eu decidi ouvir vinil, pois calhou de ser um domingo, frio com muita névoa a cobrir o horizonte. Escolhi dois discos que adoro do grupo Shakti, uma mistura de jazz e música indiana que tenho desde 1984. Esses dois discos foram tocados em mais de uma dúzia de toca discos diferentes ao longo dos anos – mas a primeira audição de ambos foi feita em um Thorens TD-160 com uma cápsula Stanton 500, anos atrás.
A entrada das tablas em ambos os canais tinha uma energia, um controle dos graves e uma precisão jamais em audição alguma escutado! Foi um nocaute sonoro! A extensão, velocidade e corpo dos graves e dos médios, a riqueza de harmônicos e o recorte dos instrumentos deram um novo ‘arranjo’ a dois discos meus de cabeceira. Resultado: o teste que era para começar naquele nevoado domingo, transformou-se em uma seção puramente analógica com a audição de mais de 25 LPs, que tomou a tarde e adentrou pela noite fria e iluminada por uma lua crescente, que teimava em se refletir no piso da sala. Afirmo que foi uma audição memorável, daquelas que todos desejamos repetir, repetir e repetir. Em cada LP uma surpresa, como se estivesse a ouvir remixagens bem feitas – talvez melhores que as originais (como se isso fosse possível). Nesse momento tive a clareza do salto dado pela Transparent com sua nova geração de cabos de caixa. Estamos falando da linha Reference, a terceira linha deste fabricante, pois agora existem duas linhas acima desta!
Para não me tornar enfadonho, vou resumir ao caro leitor minhas observações gerais. Fora as que já mencionei de macro-dinâmica, tridimensionalidade, velocidade, naturalidade, corpo dos baixos e médios-graves, não posso deixar de mencionar a qualidade do outro extremo: os agudos. Para os que acham-se marinheiros de primeira viagem, sugiro a audição de gravações com pratos, muitos pratos, como os de condução, os chineses, chimbal, etc. O que mais impressiona na geração 5 é a extensão,velocidade, corpo e o decaimento. É tão mais natural e transparente, que você percebe o tipo de acabamento na ponta da baqueta. Podem ser em gravações de jazz dos anos sessenta, ou gravações mais modernas (sugiro estas pelas diferenças audíveis dos pratos e baquetas) – até as texturas são apresentadas com maior precisão e naturalidade. E aí entra um outro grande diferencial dessa nova geração de cabos: seu silêncio de fundo, que permite uma reprodução espantosa da micro-dinâmica!
AxB na bi-cablagem: a idéia na verdade deste teste veio do meu filho, ao perceber o quanto estava impressionado com o cabo. Ao explicar para ele que a calibragem de ambos era a mesma, assim como a metragem, ele me disse: “os leitores não gostariam de saber o que ocorre com ambos tocando a mesma música?”.
Para facilitar minhas próprias conclusões limitei-me aos discos da Cavi Records.
Ouvindo Água de Beber – Comecei por colocar o Reference XL MM2 alimentando os graves e o G5 os médios/agudos. Bi-cablando a Karma o palco cresceu tanto em termos de largura e profundidade que foi preciso ouvir algumas vezes essa faixa antes de iniciar o teste. As vozes masculinas que estão em ambas pontas saíram para mais de um metro das caixas. O foco, recorte e silêncio, entre cada um dos vocalistas se tornou palpável! O violão e a percussão atrás foram pelo menos mais meio metro para o fundo. Depois de ouvir duas vezes a faixa inteira, invertemos os cabos. O G5 foi para os graves e o MM2 subiu para os médios/agudos. Dois choques imediatos: a energia, corpo, pressão e extensão do grave da moringa. E a volta para o espaço que estou acostumado a ouvir dos seis vocalistas.
Segundo disco, André Mehmari Lacrimae, faixa 12 – Novamente o MM2 nos graves e o G5 nas médias/altas. A mão direita do pianista André Mehmari novamente saiu quase um metro para fora das caixas. O trabalho nos pratos ganhou uma graciosidade e uma apresentação de intencionalidade e micro-dinâmica absurda, soavam até o limite do decaimento. Invertendo os cabos, o contrabaixo foi muito favorecido em termos de corpo e velocidade. A mão esquerda do piano ganhou peso, energia e velocidade e a mão direita voltou para dentro da caixa e os pratos voltaram a soar bonitos corretos, naturais, sem aquela expressividade e intencionalidade.
Terceiro exemplo, CD Timbres, faixas do contrabaixo acústico, violão e clarone – Claro que nem perdi tempo de ouvir os três exemplos, concentrei-me no primeiro (o mais fidedigno). Depois de ouvir os três exemplos, ao inverter os cabos tenho que confessar que, nesse disco especifico, o melhor mesmo foi voltar a mono-cablagem e escutar só com o G5!
CONCLUSÃO
Talvez centenas de leitores possuam cabos da Transparent e estejam satisfeitos com eles em seus sistemas. Mas, acreditem, essa nova linha é um salto muito consistente e pode representar um sólido upgrade em um sistema já muito bem ajustado e sinérgico.
Eu também tinha minhas dúvidas quando fiz o upgrade do meu Opus para o Opus G5, achava que a diferença em termos de valores era acentuadamente alta para fazer sentido tamanho investimento. Pois bem, só você poderá saber se vale a pena ou não. Mas imagine que você tenha a certeza que seu sistema poderia ganhar um pouco mais de ‘folga’ em termos de macro-dinâmica, e que gravações mais comprimidas e equalizadas poderiam soar mais ‘palatáveis’. Mas esses desejos pontuais não passam pela troca de nenhum dos equipamentos. Então o caminho pode ser este: upgrade nos cabos. Acredito que vale a pena ao menos ouvir, para ver o que acontece, ainda que seja um investimento alto em um sistema Estado da Arte, pode ser a solução final!
CABO DE CAIXA TRANSPARENT AUDIO REFERENCE XL G5
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 13,0
Textura 13,0
Transientes 10,0
Dinâmica 12,5
Corpo Harmônico 13,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 14,0
Total 103,5

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