REVISTA ÁUDIO E VÍDEO MAGAZINE – FERNANDO ANDRETTE
Deixei o C1 por último na esperança de chegar o D1, seu parceiro nato, já que o D1 é um CD-Player mas, também, pode funcionar como transporte para o C1. Mas infelizmente não chegou a tempo. Então fizemos o teste do C1 como DAC, ligado ao transporte Scarlatti da dCS, e como pré-amplificador ligado ao power M1 e comparado diretamente ao pré L1, ambos também da CH Precision. E também aos powers Hegel H30 e Emotiva XPA-1.
O C1, como todos os produtos deste fabricante suíço, foi pensado para ser o mais flexível possível. Há opções de entradas digitais e analógicas, conexões USB e Ethernet, e conexões de clock, bem como a possibilidade de uso da fonte de alimentação externa X1.
O C1 pesa 32kg, possui entradas digitais AES/EBU para PCM 32-bit/768kHz e DSD 56448MHz, e S/PDIF e Toslink para 24-bit/192kHz. Entradas de streaming: USB (PCM 24-bit/192kHz) e DoP 2.8224MHz, Ethernet (PCM 24-bit/192kHz e DSD 56448MHz). Formatos de streaming suportados: PCM, WAV, AIFF, FLAC, ALAC, AAC, MP3, DSD, DSF e DFF. Entradas analógicas: 1 par de XLR e 1 par de RCA.
Seus chips de DAC são quatro PCM1704 por canal. Dimensões de gabinete de 44 por 12 por 44 cm. Sua construção é impecável, como todos os equipamentos deste fabricante. O controle remoto, no primeiro momento, parece pequeno e minimalista (principalmente se comparado com o dCS o Dan D’Agostino) mas você logo se acostuma com sua ergonomia e facilidade de uso.
Ainda que o fabricante não estipule o tempo necessário de queima, li em alguns fóruns internacionais algo entre 200 e 250 horas.
Para o teste utilizamos os seguintes cabos digitais: Transparent Reference e Crystal Cable Absolute Dream (AES/EBU), e Sunrise Lab Quintessence (coaxial). Cabo de força: Transparent PowerLink MM2. Cabos de interconexão: Sax Sou Ágata (XLR e RCA), Sunrise Lab Quintessence (XLR e RCA) e Transparent Opus G5 (XLR).
O C1 veio completamente amaciado, então o colocamos imediatamente em teste. A mesma assinatura sônica do pré e do power, com uma precisão cirúrgica, impressionantes refinamento e transparência, uma folga que permite ao usuário abusar um pouco mais do volume, mesmo em gravações tecnicamente mais limitadas.
O C1 como DAC irá encontrar muito poucos concorrentes pela frente, pois além de sua enorme versatilidade, sua performance o coloca (assim como o power e o pré-amplificador) em uma classe à parte! Tivemos duas semanas para conhecer o C1 e compará-lo diretamente com o DAC Scarlatti da dCS. Foi um embate muito interessante, pois são concepções de topologias distintas, que oferecem o melhor que se pode desejar da reprodução digital. E, claro, atendem a audiófilos que possuem expectativas muito diferentes em relação ao que esperam de uma fonte digital de referência.
Começarei pelas mais audíveis: separei vinte discos de piano solo, de diferentes períodos (décadas de 60, 70, 80, 90 e do século XXI). Gravações de dois gêneros específicos: clássico e jazz. Para o audiófilo que não admite nenhum deslize na última oitava da mão direita, em que as notas não podem soar mais brilhantes, a escolha talvez termine aqui! O C1 é muito mais condescendente com esses detalhes, trazendo um conforto auditivo que permite ao usuário ouvir essas passagens no volume correto, sem se preocupar com nada! O Scarlatti é muito mais ‘rigoroso’, e se a gravação tiver tido alguma ‘falha’ no momento da captação, vai ser inevitavelmente apresentada.
Ainda utilizando os discos de piano solo, as variações do forte para o fortíssimo possuem muito mais energia e deslocamento de ar no Scarlatti, porém a folga do C1 possibilita um conforto auditivo maior nas macro-dinâmicas, com a possibilidade de uma maior inteligibilidade dos decaimentos, trabalho nos pedais e ambiência da sala de gravação.
As texturas são muito similares, assim como o corpo dos instrumentos e o soundstage (foco, recorte, ambiência, e largura, altura e profundidade de palco).
Os transientes nitidamente parecem mais precisos no C1, no entanto o Scarlatti, passa-nos a sensação de ter maior velocidade, como se os músicos estivessem mais atentos e seguros na gravação (parece algo subjetivo demais, que fica mais fácil de apreciar com instrumentos de percussão, como piano, bateria, tamborim, etc).
Um amigo pianista, que ouviu comigo esses 20 discos, disse que a sensação é que no Scarlatti a execução parece mais tensa e concentrada e no C1 mais relaxada como se o músico não estivesse ainda gravando. Ele então gostou mais das gravações tecnicamente mais limitadas reproduzidas no C1, e as mais bem gravadas no Scarlatti. E resumiu seu raciocínio convencido que talvez o C1 seja mais indicado para aqueles que possuem uma quantidade de discos muito eclética e que não abrem mão de ouvir todos esses discos. Eu concordo, e acho que os engenheiros da CH Precision tinham em mente esse mesmo objetivo: dar ao audiófilo a oportunidade de resgatar toda sua discoteca!
O próximo passo deste comparativo foi selecionar Big Bands. Escolhi dez gravações, todas de excelente nível artístico e técnico. O que já havíamos detectado de semelhanças entre os dois produtos (textura, corpo harmônico e soundstage) se confirmaram. Mas, com mais instrumentos em passagens bem complexas e nos fortíssimos, o C1 teve uma margem de vantagem boa, pois sua folga mais uma vez nos passa um conforto auditivo impressionante. E nos remete a um grau absurdo de inteligibilidade de cada nuance! Nada se perde, tudo está lá para ser apreciado em detalhe!
O Scarlatti possui mais grave e um pouco mais de peso nesta região. Mas o C1 compensa essa diferença com o grau de precisão e o conforto auditivo. Os agudos são difíceis de escolher qual soa mais natural e com decaimento mais preciso e suave. Pratos são reproduzidos divinamente em ambos, com decaimentos precisos e texturas palpáveis. No entanto, em termos de corpo, gostei mais com o Scarlatti.
A briga se torna mais evidente e apertada quando avaliamos a região média (principalmente com vozes e cordas). As nuances e a técnica vocal dos músicos parecem mais precisas no C1, No entanto a materialização (organicidade) e energia são muito mais ‘realistas’ no Scarlatti.
Então voltamos à mesma questão das gravações de piano solo: para os que não abrem mão de apreciar toda sua discoteca, o C1 certamente será a primeira opção. Ouvi algumas gravações de vozes femininas e o que mais me chamou atenção no C1 foi o tratamento dado à micro-dinâmica. Detalhes que só havia observado em audições no dCS Vivaldi e, em menor grau, no dCS Rossini.
O Scarlatti se concentra no global, mantendo o acontecimento sempre debaixo do refletor, com menor variação de luz. À medida que você vai conhecendo e se acostumando com a assinatura sônica dos produtos CH Precision, você rapidamente se ‘vicia’ e a volta é bastante difícil. Nos dois quesitos da nossa metodologia, Organicidade e Musicalidade, houve um empate, pois o Scarlatti com sua energia e transparência nos dá uma materialização do acontecimento musical impressionante. E o C1, com sua folga e absurdo silêncio de fundo, nos apresenta a música com uma ausência de fadiga absurda!
Então, voltamos ao início de minha apresentação do teste do C1: quem irá escolher é o cliente. São duas escolas que primam em oferecer produtos de nível e performance superlativos, e que tranquilamente atenderão as mais altas exigências audiófilas. Então, tudo se resume a uma questão de gosto pessoal!
Li também diversos testes publicados lá fora, e pesquisei dois fóruns em que se discute exatamente as diferenças entre o dCS Vivaldi e o CH Precision C1 com seus pares (D1 e fonte X1). É um embate de cachorro grande, meu amigo. E as opiniões são bastante divididas. Com um revés para o conjunto CH Precision, por custar um pouco menos que o conjunto dCS Vivaldi.
Como tentamos e não conseguimos realizar essa avaliação com o D1 como transporte, só posso avaliar o C1 parcialmente. Porém acredito ter dado uma consistente ideia de seu potencial e performance.
Por último, avaliei o C1 como ‘controlador’ (que é como o fabricante o batizou), comparando-o direto com o pré L1 e também com o HD30 da Hegel (leia teste na Edição 240). Vou direto ao ponto: se você já possui o M1 da CH Precision e o conjunto D1 para usar como transporte/CD-Player, e encontra-se na dúvida se o próximo passo é a aquisição do pré amplificador L1 ou o C1, então pode escolher o C1!
Ele foi de longe o melhor pré embutido em um DAC que testamos. Superior ao da Hegel, superior ao do DAC do Scarlatti e muito mais próximo do L1 do que poderíamos imaginar! Ele não irá substituir o L1, mas enquanto você toma fôlego, o C1 como controlador não fará feio.
Uma transparência incrível, excelente equilíbrio tonal e soundstage, ótima textura e transientes. Perde em relação ao L1 em macro e micro-dinâmica, corpo harmônico, transientes e organicidade.
Mas perde apenas em refinamento!
CONCLUSÃO
Sempre que testamos produtos deste nível, me coloco no seu lugar, leitor, e tento descobrir que dúvidas serão mais pertinentes. Uma que me veio a mente agora diz respeito a se um CH Precision deve obrigatoriamente tocar em um sistema todo CH Precision. A resposta é não. E basta uma consulta aos fóruns internacionais para constatar que muitos audiófilos possuem peças CH Precision em seus setups.
Outra pergunta que faria: se já possuo um sistema Estado da Arte de alto nível, qual peça CH Precision deveria ouvir em meu sistema para um seguro upgrade? Eu começaria justamente pelo C1, desde que o audiófilo já tenha um excelente transporte ou já tenha migrado apenas para streaming. E, se possível, avaliaria a oportunidade também de escutar com fonte de alimentação X1 – já que parece ser uma unanimidade o salto que o C1 dá com essa fonte externa. Pois ainda que caros, são mais baratos que os concorrentes deste mesmo nível.
Agora ouvir o sistema inteiro CH Precision, o ouvinte terá uma assinatura sônica CH Precision, com todas as qualidades já citadas nos testes do M1, L1 e, agora, do C1. Se forem esses os atributos tão desejados para si, o risco de decepção diria ser absolutamente nulo. Essa escolha possibilitará ao audiófilo voltar a ouvir toda a sua discoteca sem nenhuma exceção!
Pois os CH Precision primam por três qualidades: precisão (ritmo, tempo e inteligibilidade), folga (para o melhor conforto auditivo possível), e musicalidade! Ter na mesma proporção essas três qualidades é um feito raríssimo mesmo para produtos deste nível!
CH PRECISION CONTROLADOR & DAC C1 (como DAC)
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 13,0
Textura 13,0
Transientes 13,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 14,0
Total 101,0
CH PRECISION CONTROLADOR & DAC C1 (como controlador de volume)
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 13,0
Total 97,0

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