REVISTA ÁUDIO E VÍDEO MAGAZINE – FERNANDO ANDRETTE
Peço a gentileza a todos os nossos leitores que nos conheceram agora em abril (espero que sejam muitos, como tem sido nos últimos 12 meses, com um crescimento de aproximadamente 4% ao mês, em média), que antes de iniciar a leitura da nossa avaliação do pré-amplificador CH Precision L1, leiam o teste do amplificador estéreo M1, publicado na edição número 238, de março último, pois poderão ter uma idéia mais consistente da proposta deste fabricante suíço na busca de produzir apenas produtos de nível superlativo!
Ainda que a Ferrari (distribuidor oficial da marca no Brasil) tenha nos disponibilizado o sistema completo (power, pré-amplificador e CD-Player), ao escutar o conjunto, achamos que seria muito mais ‘correto’, para passar uma idéia exata do nível do sistema separar os componentes ao ouvir em nossa sala de testes e depois escutar, mais adiante, o setup completo no próprio show-room da Ferrari. A matéria com o sistema completo deverá ser publicada na edição de junho ou de julho.
Minha impressão inicial ao escutar o M1 em nosso sistema de referência, em que ele se mostrou muito superior ao nosso power de referência (Hegel H30), é que o mesmo ocorreria com o pré-amplificador L1 em relação à nossa referência, o Dan D’Agostino. Sempre alerto nossos leitores que fizeram nossos Cursos de
Percepção Auditiva, que na nossa metodologia uma diferença de quatro pontos para cima é um salto muito consistente (geralmente esse salto se dá em pelo menos metade dos quesitos da metodologia), porém foram seis pontos no caso do M1 em relação ao H30: em todos os quesitos o M1 se mostrou superior.
Assim imaginei que o L1 também manteria essa distância de seis pontos em relação ao nosso pré, mas não foi exatamente isso que ocorreu. Mas deixemos essa parte para depois.
Em um Box descrevo as características técnicas do produto. Agora gostaria apenas de descrever que o acabamento do L1 também é primoroso tanto em termo estético, como de funcionalidade. Os projetistas levaram muito a sério as questões de vibrações espúrias, chegando ao requinte de todas as placas de circuito interno serem desacopladas por uma suspensão que necessita ser destravada antes do produto ser colocado em uso. O procedimento é simples: do lado esquerdo do aparelho, na parte de baixo, existe uma trava, que deve ser retirada antes de ligar o equipamento. E a mesma deve ser recolocada caso o equipamento tenha que ser transportado.
Assim, seguindo rigorosamente as instruções, colocamos o pré-amplificador no rack, apoiamos o mesmo nos pés direitos, deixando os pés esquerdos para fora do rack, e destravamos a trava rodando-a no sentido anti-horário. Aí, com muito cuidado, sem levantar o aparelho, o colocamos na prateleira.
Ligado ele demora 30 segundos para fazer um pré-aquecimento e ser liberado para uso. Seu painel além de elegante possibilita uma visualização com todas as informações, até mesmo em distâncias superiores a 5 metros (nosso caso). Seu controle remoto de pequenas proporções e minimalista é muito fácil de utilizar. Ergométrico e com apenas cinco pequenos botões de toque, permitem total controle de todas as funções do pré-amplificador. Acostumado com o pesado e grande controle remoto do nosso pré-amplificador, até estranhei nos primeiros dias o peso e a facilidade de manuseio do controle do CH Precision.
Outra característica que adorei de imediato foram as opções de entradas single-ended e balanceadas do pré suíço. Realmente sinto falta de entradas single-ended no meu Dan D’Agostino e, dependendo do peso do cabo RCA que uso, os adaptadores sofrem muito. Os meus já quebraram algumas vezes, por isso mantenho sempre dois adaptadores de reserva.
Outra qualidade que gostei muito foi a possibilidade de ajuste fino do ganho de saída deste pré, que se mostrou muito interessante com os três powers utilizados no teste: CH Precision M1, Hegel H30 e Emotiva XPA GEN 2). Com saídas também balanceadas e single-ended, pudemos utilizar cabos RCA entre o pré e o power (opção inexistente no nosso pré de referência, que só dispõe de saída balanceada).
Assim como o power, o L 1 veio integralmente amaciado do distribuidor, o que possibilitou o equipamento entrar imediatamente em teste. Além do sistema dCS Scarlatti, utilizamos também o DAC Hegel HD30 (em teste) e as caixas acústicas Devore 88x (em teste), Dynaudio Contour 60 e Special 40 (leia teste 2 nesta edição), e
Kharma Exquisite Midi. Cabos de caixa: Quintessence da Sunrise Lab (em teste) e Transparent Reference MM2. Cabos de interconexão: SaxSoul Ágata e Transparent Opus G5. Cabos de força: Sunrise Lab Reference MagicScope e Transparent PowerLink MM2.
O L1 pode sofrer um upgrade ao ser acoplada uma fonte externa batizada de X1 que, segundo o fabricante, reduz ainda mais drasticamente seu silêncio de fundo, refinando ainda mais a sensação de holografia sonora e trazendo uma melhor resolução na micro-dinâmica. Sinceramente, para as minhas exigências pessoais a performance do L1 já é tão fora da curva que eu me daria por satisfeito integralmente com ele sem essa fonte externa (afinal essa fonte não é nada barata também). Mas, sabendo que a CH Precision não produz nada para nós mortais – como eu e você amigo leitor – não tenho duvida que os admiradores da marca certamente, depois de um tempo, irão desejar ouvir essa fonte externa para saber o patamar de performance do produto.
Os relatos que li nos fóruns internacionais citam que o pré-amplificador muda de patamar, parecendo mais com um modelo acima! Não duvido que seja verdade, mas como escrevi, me daria por satisfeito em conviver pelo resto dos meus dias com o L1, assim do jeito que ele veio para teste.
Seu DNA é o mesmo do power M1. Um conforto auditivo pleno, uma precisão de tempo, ritmo e intencionalidade desconcertante, e um grau de realismo que convence de imediato nosso cérebro que estamos juntos com os músicos em nossa sala! Essa composição de qualidades permite um conforto auditivo que nos leva sempre a abusar um pouco mais do volume, buscando o limite máximo da gravação e audições também prazerosas dos discos tecnicamente limitados.
Seu arejamento tanto na apresentação de ambiências, como no silêncio em volta de cada instrumento, é espetacular! Para audições de pequenos grupos musicais, o grau de detalhamento é inesquecível! Ouvi duos de diversos instrumentos, como dois pianos, piano e violino, piano e cello, piano e contrabaixo acústico, flauta e oboé, bandolim e trumpete, bandolim e piano, voz e piano, quarteto de cordas, quarteto de cordas com piano, e a sensação é que o silêncio em volta de cada instrumento nos coloca a dois três metros dos músicos na sala de gravação. É o famoso ‘ouvir vendo’ a performance dos músicos, tanto em termos de intencionalidade como de dificuldade e nível técnico dos executantes. O acontecimento musical se torna ‘palpável’ e nos coloca em um grau de emotividade completamente distinto de apenas sentarmos e ouvirmos nossas obras preferidas!
As texturas são as mais ricas e naturais que escutei em todos os pré-amplificadores que tive e testei. E testei muitos dos melhores pré-amplificadores já lançados nesses últimos 20 anos! Os leitores que nos acompanham há muitos anos sabem minha opinião a respeito de excelentes pré-amplificadores: acho que, de todo o setup, é o componente mais difícil no quesito upgrade. Geralmente trocamos seis por meia dúzia.
Dar saltos consistentes nesse componente, não é tarefa das mais simples. Brinco que o pré-amplificador é o ‘cérebro’ do sistema, pois todo sinal passa por ele. Sua função é amplificar aquele débil sinal que entra nele e jogar para o power sem fazer nenhuma alteração, na mais absoluta fidelidade possível. Grandes prés que conseguem esse feito são poucos, muito poucos. E geralmente são caros.
De uma maneira geral hoje existe uma infinidade de bons prés honestos que procuram alterar muito pouco o sinal. E muitos audiófilos até gostam que seus prés dêem uma ‘turbinada’ no sinal, enchendo o invólucro harmônico, corrigindo uma certa estridência nos agudos ou deixando o som mais ‘molhado’ para ficar mais confortável. Isso é gosto!
Mas, aos fabricantes que desejam produzir componentes com a maior precisão e fidelidade possível, esses ‘molhos’ são inadimissíveis. E, à medida que o audiófilo vai ganhando ‘maturidade’, percebe que essas ‘colorações’ ou pequenas ‘concessões’ possuem desvantagens, e acabam por cansar com o tempo. Mas isso é uma discussão que levantarei em um artigo que pretendo apresentar em breve.
Voltando ao L1, ele não pertence a essa classe que faz algum tipo de concessão ao sinal recebido. Pelo contrário, o que ele recebeu será ampliado e levado à outra ponta com a maior fidelidade possível. Assim se queres extrair o máximo de seu desempenho, todos os seus pares precisam estar à sua altura.
Depois do teste, na edição passada, o leitor Marco Antonio Dias, de Goiânia, me fez o seguinte questionamento: “um sistema todo CH Precision não irá impor uma assinatura sônica muito contundente?”. Respondi a ele: sim, e não. Pois em termos de fidelidade certamente que seu grau de precisão se destaca de forma integral. Mas, sua sonoridade será sempre a qualidade da gravação escutada. Então não se pode afirmar que um sistema CH Precision imponha uma assinatura sônica sua. Pelo contrário, como seu grau de folga é extremamente alto, gravações tecnicamente ruins permitem uma audição ‘interessante’, que em outros sistemas é sempre decepcionante! Essa folga se traduz em muito maior conforto auditivo. Sempre!
Mas, um sistema com esse grau de precisão e refinamento sempre necessitará de extremo cuidado com a escolha de todos os cabos e principalmente das caixas acústicas. Nesse teste ficou escancarado como sua performance mudava radicalmente com a troca de caixas (quando utilizado o mesmo set de cabos), dando a assinatura da caixa e não da eletrônica. Com as Devore 88x prevaleceu um som mais relaxado, com texturas mais evidentes e naturais. Com os dois modelos da Dynaudio (Contour 60 e Special 40) o som ganhou uma energia e uma precisão desconcertante na reprodução de transisentes. E, na Kharma, um equilíbrio tonal e uma naturalidade belíssima nos timbres. Tudo então irá ser definido pelo casamento da eletrônica CH Precision com as caixas escolhidas, e não o contrário.
Depois de me deliciar por duas semanas com o L1, fiz a última etapa da lição de casa: comparar o L1 com o Dan D’Agostino. Nos Estados Unidos ambos custam 32 mil dólares (sendo o L1 sem a fonte X1), então achei que era válido esse comparativo.
Para o teste utilizei apenas o H30 e o M1, com os mesmo cabos e com as caixas Dynaudio Contour 60 e Kharma Exquisite Midi. Em termos de entradas e versatilidade, o L1 dá um banho no Dan D’Agostino, o que para um articulista é uma disponibilidade extremamente importante. Em termos de sonoridade o L1 também
ganha, pois possui mais folga (principalmente com as gravações tecnicamente limitadas), um silêncio de fundo ainda mais impressionante, o que se traduz em melhor foco, recorte e apresentação de planos e largura e profundidade do palco sonoro. No computo geral, o resultado é um maior conforto auditivo e uma apresentação em termos de materialização do acontecimento musical – uma organicidade – ainda maior! O único quesito em que o L1 não se mostrou superior foi na apresentação de energia e deslocamento de ar, o que se traduz em uma sensação de uma macro-dinâmica mais visceral. Mas, com toda minha experiência, fiquei com uma pulga atrás da orelha: será que essa ‘sensação’ não é apenas pelo fato do L1 possuir uma folga infinitamente superior?
Lembro-me que a primeira vez que escutei o dCS Vivaldi, comparando com o dCS Scarlatti, também tive esta mesma sensação. Porém, na audição da Sagração da Primavera de Stravinsky, percebi que quando voltávamos para o dCS Vivaldi, os degraus entre o piano e o fortíssimo eram muito mais perfeitamente delineados, dando a sensação que havia menos deslocamento de ar, pelo fato da energia estar mais bem distribuída em toda aquela complexa massa instrumental. O resultado: melhor inteligibilidade de tudo e principalmente muito maior conforto auditivo.
Talvez com o Vivaldi no lugar do Scarlatti, como fonte nos testes da eletrônica CH Precision, essa sensação também não existiria. Enfim é uma duvida que, quando ouvir o setup inteiro CH Precision, espero ver solucionada.
CONCLUSÃO
O L1 é obviamente o par perfeito para o M1, seja versão estéreo ou monobloco. Quando ligado ao seu par, o M1 se mostrou ainda mais impressionante, como se todas as virtudes estivessem trabalhando em conjunto para proporcionar ao ouvinte uma audição inesquecível!
A quantidade de informações que ambos extraem é de nos fazer coçar a cabeça e colocar um grande sorriso no rosto, pois sabemos que chegamos lá. A um patamar de reprodução eletrônica que pode ser considerado como a Referência das Referências!
Como sempre escrevo, não posso afirmar ser este conjunto o melhor do mundo, pois precisaria ouvir tudo que existe de superlativo para bater o martelo. Mas posso tranquilamente confirmar que de todos os powers e pré-amplificadores por nós já testados, são os melhores indubitavelmente.
O power nos pareceu ainda superior ao pré, mas certamente com a fonte externa X1 essa diferença venha por terra.
Para os que desejam um pré que pode e deve ser tratado como a fidelidade possível no atual estágio da tecnologia hi-end, ouçam o pré CH Precision L1. Mas não esqueçam que o ideal será também ouvir seu par, o power CH Precision M1, pois quando escutamos o pré ligado ao Hegel H30 e ao Emotiva, as diferenças entre ele e o nosso pré de referência (que até então era o pré com maior pontuação: 100 pontos) foram mínimas.
Porém, quando comparados no M1, a diferença pulou para 4 pontos (o que, como escrevi no inicio do teste, é uma diferença significativa). O que o coloca com uma boa margem de vantagem como o melhor pré-amplificador por nós já testado.
E, se com a fonte externa ele cresce como os fóruns internacionais afirmam, acredito que provavelmente o L1 seja o pré-amplificador Estado da Arte a ser batido nos próximos anos.
PRÉ-AMPLIFICADOR CH PRECISION L1
Equilíbrio Tonal 13,0
Soundstage 13,0
Textura 14,0
Transientes 13,0
Dinâmica 12,0
Corpo Harmônico 12,0
Organicidade 13,0
Musicalidade 14,0
Total 104,0

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