REVISTA ÁUDIO E VÍDEO MAGAZINE – FERNANDO ANDRETTE
Sou usuário de sistemas dCS há mais de uma década. Todos os nossos discos lançados pela Cavi Records recorreram a modelos dCS tanto no momento da conversão analógico digital, como na fase de mixagem e masterização. E no sistema de referência da Cavi passaram o Puccini e seu respectivo clock, o Paganini e há mais de quatro anos utilizamos o sistema Scarlatti. A assinatura sônica dos digitais dCS são únicas, e aliam resolução e folga como nenhum outro excelente sistema digital. E ainda que tenha escutado excelentes players – que também são Estado da Arte – nesses últimos anos, não consegui ouvir nada que suplantasse a performance do Scarlatti.
Até que em 2014 tive a oportunidade de escutar um sistema completo Vivaldi em um sistema integralmente sinérgico e descobri em algumas poucas horas que estava diante de um novo estágio do domínio digital. Algo absolutamente inimaginável até aquele momento em termos de performance, transparência, naturalidade e conforto auditivo. Naquela audição inesquecível ouvimos obras de uma variedade dinâmica e complexidade, capazes de nocautear qualquer sistema superlativo. O Vivaldi não se privou em nenhum momento de nos mostrar que estava inteiramente à vontade, independente do gênero e das artimanhas da obra. Escutamos um solo de bateria, grudados à cadeira, e a cada mínima variação dinâmica pudemos visualizar o que o solista estava executando em cada peça do seu instrumento. Saí daquela audição certo de que o Vivaldi é a fonte que nos coloca mais próximo do acontecimento musical, levando o quesito organicidade a um outro patamar de materialização física!
Agora quando me perguntam qual a diferença entre o Scarlatti e o Vivaldi, só respondo: escutem e saberão de imediato a diferença! Pois não tem nada de sutil, pelo contrário, as diferenças são todas audíveis e imediatas. Assim não poderia deixar de aceitar prontamente o convite para testar o Rossini, o primeiro produto derivado diretamente do Vivaldi e que foi apresentado ao mercado em 2015 e está a receber elogios rasgados em todas as principais publicações do mundo. A Ferrari Technologies a principio tinha a intenção de disponibilizar o CD-Player Rossini e o seu clock, mas o clock foi vendido assim que foi liberado pela alfândega, então resolvi dividir esse teste em duas etapas. Primeiro testamos o Rossini e mais adiante voltaremos a ouvi-lo com seu respectivo clock. O motivo desta minha insistência é que de acordo com todos os testes já realizados com o conjunto, sua performance é ainda mais surpreendente quando trabalhando em conjunto. E acredito piamente, pois quando realizei o upgrade no Puccini com a aquisição do seu clock, sua performance cresceu exponencialmente.
O Rossini está preparado para todas as plataformas existentes na atualidade. Seu DAC de 24-bit/384kHz e DSD128, também inclui um controle de volume para uso como pré-amplificador digital e um streamer UPnP controlado pelo app Rossini para dispositivos iOS. O aplicativo também permite a troca on-the-fly entre DXD e DSD, como a capacidade de selecionar 6 filtros PCM e 4 filtros DSD para a melhor performance de cada música. O usuário pode selecionar também as entradas AES/EBU, UPnP, USB (armazenamento), Digital (Coaxial e Toslink) e USB/PC. Além de um conjunto de entradas coaxiais de 75 ohms (BNC) para a conexão do clock externo Rossini.
O painel frontal segue o mesmo padrão de design e acabamento da linha Vivaldi. Com um painel a esquerda com tela iluminada que apresenta a fonte de entrada, nível de volume, filtro selecionado, reprodução da faixa, etc. Segundo o fabricante o chassis do Rossini, que pode ser prata ou preto, é moído a partir de alumínio usinado de grau aeroespacial, com amortecedores acústicos para reduzir a vibração mecânica e efeitos magnéticos. A regulação de energia é em multi-estágios com um par de transformadores que isolam circuitos analógicos, digitais e do clock interno. No coração do Rossini encontra-se a mais recente plataforma de processamento digital dCS, a tecnologia Ring DACTM, originalmente desenvolvida para a linha Vivaldi.
O Rossini na cor prata chegou integralmente amaciado, o que nos possibilitou colocá-lo imediatamente em teste. Ele foi ligado diretamente ao nosso sistema de referência e começamos ouvindo com o cabo de força Ágata da Sax Soul e depois, para fechamento do teste, trocamos pelo Transparent PowerLink MM2 para podermos comparar com o Scarlatti. O cabo de interconexão foi o Transparent Opus G5 XLR.
É preciso alguns dias para se compreender todo o potencial do Rossini, principalmente para quem já utiliza um sistema dCS. No caso especifico do Puccini e do Paganini as diferenças serão rapidamente ouvidas, principalmente em gravações tecnicamente mais limitadas ou em gravações com importantes variações dinâmicas. No Rossini essas gravações soarão mais confortáveis e com uma recuperação de micro dinâmica muito superior! E essas observações foram feitas sem o uso do clock externo, o que me faz crer que com esse upgrade essas diferenças fiquem ainda maiores. Quando comparado diretamente com o Scarlatti essas diferenças não são evidentes, mas em termos de recuperação de micro-detalhe sim. Escutei nuances em gravações comprimidas que não ouço no meu sistema Scarlatti. Mas a maior diferença nessa nova série da dCS encontra-se na capacidade de aliar energia com relaxamento. Esse é o grande pulo do gato.
Performance só comparável à música ao vivo, em escala real quando a música vai do silêncio ao fortíssimo e só nos damos conta do real impacto daquele momento alguns milésimos de segundos após essa intensa variação dinâmica ter ocorrido. Como diz um amigo músico: “primeiro sentimos, depois entendemos”. Em outras palavras, amigo leitor, entenda da seguinte forma: essa nova geração da dCS nos permite estar mais perto da música reproduzida eletronicamente como jamais estivemos! E não apenas em termos de resolução, mas também na forma da apresentação, extremamente mais realista e natural.
Detesto a comparação com o analógico, pois caminham em direções paralelas, cada um com suas virtudes e limitações, mas se preciso fazer alguma analogia com algo, prefiro a analogia com ouvir a Nona de Beethoven com instrumentos da época em que a obra foi executada pela primeira vez e com instrumentos produzidos no século XX. Tenho uma gravação alemã feita com instrumentos da época e com o mesmo número de músicos da orquestra e do coral com os quais a obra foi executada pela primeira vez. Foi decepcionante, para ser educado. Depois que escutamos a nona como ela é apresentada hoje, fica difícil ouvir como foi apresentada pela primeira vez! Sensação parecida é escutar seus discos preferidos no Vivaldi e no Scarlatti, ou agora no Rossini e no Puccini. São estágios do domínio digital distintos e por isso mesmo tão fáceis de perceber as inúmeras diferenças.
Arrisco até a dizer amigo leitor, que com o clock do Rossini as diferenças para o Scarlatti serão ainda menores e mais pontuais. E em relação ao Paganini com o clock externo, o Rossini deve ser difícil de ser batido. Conheço centenas de leitores que possuem uma coleção de CDs maravilhosa, com gravações históricas obrigatórias e muitas raras. Mas que se frustram ao colocar em seus sistemas e perceber que muitas, tecnicamente, estão abaixo do valor histórico da obra. Com essa nova geração da dCS esse problema está mais perto de uma solução, pois pela primeira vez constatei enorme diferença entre os filtros existentes no Rossini em relação à geração anterior, composta do Puccini ao Scarlatti.
Sinceramente, escuto 99% dos meus discos (independente da qualidade técnica) no filtro 1 no Scarlatti. Mas, no Rossini, a diferença é substancial, prazerosa e necessária para o ajuste nas gravações tecnicamente limitadas, com resultados muito acima do esperado! Fiquei então a imaginar o nível de melhora possível nas 4 unidades do Vivaldi! E como a mudança do filtro é simples e imediata, o usuário pode, antes de iniciar sua audição, escolher qual filtro é o mais indicado para cada gravação. Outra qualidade desses novos filtros da dCS é a sensação de maior tridimensionalidade de cada opção, tanto na percepção de foco e recorte, como de profundidade e largura da imagem sonora. E quando a gravação tecnicamente é de alto nível, essas características mudam ainda mais em cada filtro.
CONCLUSÃO
O leitor já acostumado com meus testes sabe que quando não descrevo cada um dos quesitos de nossa metodologia é que o produto em teste está em um patamar restrito apenas aos Estado da Arte de nível superlativo. Poderia escrever paginas e mais páginas detalhando cada faixa escutada nos oito quesitos de nossa metodologia. Prefiro nesses casos focar nos avanços tecnológicos e de performance e deixar que o leitor tire suas conclusões.
Com produtos desse naipe, o objetivo primordial do teste é relatar ao publico interessado que mais um degrau foi transposto e já está a disposição no mercado. E mesmo que esteja fora do alcance da esmagadora maioria, ouvi-lo para ter como uma nova referência do patamar em que o digital se encontra é fundamental a todos que amam esse hobby. É maravilhoso quando constatamos que aquele CD 16/44, do qual julgávamos já ter extraído todo o seu potencial em nosso sistema, ainda tem um sumo a mais para nos entregar. Foi exatamente o que fiz: antes de embalar o Rossini para devolução, lembrei-me de colocar o CD Fragile do grupo Yes – prensagem Microservice – que ao longo de todos esses anos sempre soou duro, digitalizado, com agudos escondidos, tímidos e pouco naturais, e no Rossini no filtro 2 soou tão bem, diferente e confortável, que me fez escutar o CD inteiro como se estivesse ouvindo pela primeira vez! Essa é a magia do Rossini, um player que pode fazer o milagre que tantos audiófilos esperam há anos!
PLAYER DCS ROSSINI
Equilíbrio Tonal 12,0
Soundstage 12,0
Textura 12,0
Transientes 12,0
Dinâmica 11,0
Corpo Harmônico 11,0
Organicidade 12,0
Musicalidade 12,0
Total 94,0

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